segunda-feira, 30 de agosto de 2010

21ª Parte - O Diário De Jane.

O pior não era o que tinha acabado de presenciar. Mas sim, o que vinha acontecendo durante aquele dia. Abriu lentamente os olhos e olhou todo quarto que estava levemente iluminado. Meio trêmula e chocada ela sussurrou para si:

- Jane... o que está acontecendo com você? – Andou até sua cama e colocou sua bolsa nela. Já eram oito e quinze. Jane tinha tomado um bom banho e secava os cabelos com uma toalha bege. Já estava com a camisola branca e se sentou na beirada da cama, puxando a bolsa e tirando o diário. Pegou a caneta e o abriu. As folhas macias e descoradas, ainda não escritas, traziam a lembrança de sua cidade natal. A mesma deu um leve suspiro de saudade; segurou firme a caneta e começou a preencher as primeiras linhas da sua nova vida na cidade grande: “E aqui estou. Sentada na minha nova cama, no entanto, olhando para o meu velho companheiro de vida. É incrível como eu não consigo passar um dia sem você. Às vezes acho que você sabe mais sobre mim do que eu... mas tem uma pessoa que você ainda não conhece. Ou melhor, algumas pessoas. Numerosas. Mas, quero lhe contar sobre alguém em específico. Benjamin, meu mais novo amigo. Quando estou com ele, de vez em quando, é como se eu estivesse em um sonho. As palavras dele, o jeito dele. Porém, dessas vezes as quais estive com ele senti como se tivéssemos entrado em uma atmosfera onde... não era com ele que eu estava. Eu estava com outro alguém. Mais sério e mais ríspido. Ah, não sei. Por esses dias tudo tem sido tão bom, no entanto tão confuso”.Neste momento ela fora interrompida. Alguém bateu a porta. A moça fechou o diário marcando o local com a caneta. Levantou-se olhando no espelho como estava seu cabelo e logo abriu:

- Pronta para o jantar? – Era Chyoko segurando um guardanapo com aquele gentil sorriso nos lábios.

20ª Parte - O Diário De Jane.

Quando ônibus parou tiveram que correr, pois a garoa se tornou grandes gotas que caiam rápido do céu. Jane e Ben correram rindo. A garota escondeu a cabeça com a bolsa até adentrarem o casarão. Jane ria ainda, enquanto limpava a bolsa que tinha ficado marcada pelos pingos:

- Minha nossa, quase que não chegamos secos. – Disse ela, passando as duas mãos na cabeça segurando o cabelo, como se fosse fazer um rabo de cavalo:

- E mais um pouco não chegaríamos mesmo... – Benjamin sorria olhando-a, enquanto passava os dedos da mão direita freneticamente pelos cabelos. Nick correu latindo alegre, com a chegada deles. Benjamin o agradou, acariciando a cabeça do mesmo, dizendo:

- Vou subir pra tomar um banho. Depois nos encontramos no jantar.

- Certo, também vou subir. – O cachorrinho se aproximou dela balançando o rabo:

- Quer carinho, é amiguinho...? – Coçou o pescoço de Nick, sorrindo. Benjamin já subia as escadas bem à frente. A moça seguiu devagar pelo caminho que levava ao salão. Escutou o barulho de uma televisão e olhou para o lado vendo Mike, que estava em outro cômodo que com certeza era a sala. Ele assistia atento um desenho e se levantou um pouco quando a viu:

- Boa noite Jane! – A mesma respondeu sorrindo mostrando os dentes:

- Boa noite Mike! Vou tomar um banho e depois conversamos ok?

- Ta! – O garotinho voltou a assistir. Subiu as escadas indo até seu quarto. Ela suspirou forte procurando a chave da porta na bolsa. Quando soltou o ar, ele saiu bem branco, como se a temperatura estivesse realmente muito baixa. Ela não esboçou reação nenhuma, apenas tirou a chave da bolsa; foi quando uma voz disse perfeitamente:

- Jane... – Ela arregalou os olhos verdes e se virou devagar para olhar o que era. Nada. Ninguém. Apenas o silêncio no corredor. Rápida, ela se virou para abrir a porta, porém teve uma surpresa. Ela estava aberta. Como conseqüência, a moça entrou sem olhar para os lados e a fechou. Encostada na mesma ela acendeu as luzes. Engoliu seco. Colocou a mão no peito sentindo seu coração bater forte. Fechou os olhos e colocou no rosto uma expressão desanimada.

19ª Parte - O Diário De Jane.

Todo aquele dia expunha para Jane que aquele ano seria marcante em sua vida. Talvez tudo mudasse. Ou já tivesse mudado. Depois de conversar um pouco com Vanessa, a moça chamou Jane para dar mais uma volta pelo hospital. A garota conheceu outros enfermeiros e alguns pacientes. Logo a hora do almoço chegou. Ela e Benjamin almoçaram juntos com a nova amiga e o doutor Edgar. O tempo passou rápido e quando ela viu, já eram sete horas da noite. A jovem sabia que seu amigo não ficaria de plantão aquela noite. Então, ficou a esperá-lo na porta do hospital. Nova Iorque, como Jane já sabia, a cidade que nunca para. Os carros continuavam passando na rua e ao longe podia se ver um engarrafamento sendo formado. O barulho de buzinas, pessoas, mesmo àquela hora, continuavam fortes. Ela estava na calçada olhando tudo. Um cara negro, com dreads compridos, o qual fumava um cigarro passou perto da mesma, quase encostando. Logo em seguida, passaram outras pessoas. O asfalto estava encharcado e a esquerda de Jane a alguns metros, havia um bueiro. Dele saia uma fumaça branca. De repente foi surpreendida pela voz de Ben:

- E então? Vamos pra casa? – Ela sorriu olhando moço:

- Sim, sim. Qual ponto de ônibus iremos?

- Aquele ali, do outro lado da rua. – Neste instante, os dois atravessaram a rua e foram sentar sob a proteção do ponto. O moço que não tirava as mãos do bolso, disse com uma expressão de desagrado:

- Odeio esse frio. – Jane balançou a cabeça positivamente:

- Eu também... – A condução chegou logo e então os dois seguiram para casa. O silêncio pairou um pouco entre os dois. Jane organizava em sua cabeça o que ia escrever em seu diário sobre aquele dia. Já estavam na metade do caminho. Benjamin disse:

- Está tão quieta... gostou do dia? – Ela o olhou com um singelo sorriso nos lábios:

- Adorei, Benjamin. Muito obrigada por me ajudar nisso. – Ele sorriu satisfeito, prosseguindo:

- Que isso, pode contar comigo daqui pra frente. Vou te ajudar. – A mesma que o olhava atenta, balbuciou sincera:

- Obrigada. – Depois olhou para a janela apreciando aquela cidade brilhante. De longe, ela podia ver os prédios iluminados e os letreiros. Gotículas escorregavam pelo vidro gélido. Uma leve garoa caia e encharcava ainda mais tudo sob si.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

18ª Parte - O Diário De Jane.

Então um pouco sem jeito, ela desviou o olhar e respirou fundo, mas não se afastou. Benjamin então olhou pra baixo e disse calmo:

- Quero que saiba... que pode contar comigo. Caso esteja preocupada com algo. - Ela sorriu então, aliviada:

- Muito obrigada... Benjamin. - Ela ficou feliz por já ter conquistado um amigo de verdade. Ou talvez mais que isso. Então foi como se toda aquela claridade e brancura fosse sugada por uma repentina escuridão. Havia acabado a força. A chuva começava a ficar mais forte. O vento assoviava pelas janelas fechadas do refeitório. As luzes de emergência logo acenderam. Ben soltou as mãos da garota olhando em volta. Jane cruzou os braços e observou os enfermeiros e pessoas do refeitório que comentavam entre si sobre o apagão. Alguns médicos se levantavam apressados e corriam para o corredor que levava ao resto do hospital. O moço passou os dedos entre os cabelos enquanto a olhava para os médicos que corriam:

- Isso sempre acontece aqui... – Ele se levantou empurrando a cadeira:

- Vou lá... devem estar precisando de mim. – Nessa mesma hora aquela enfermeira de antes, vinha andando com presa pelo corredor. Levantou a mão direita, chamando o jovem:

- Benjamin! Edgar precisa de você.

- Ok, agente se vê. – E entre suas palavras ele piscou rapidamente pra ela e seguiu. A moça delicada se aproximou de Jane colocando as mãos pra trás, meio acanhada:

- Vocês estão namorando? – A garota sorriu colocando os cotovelos em cima da mesa, acariciando a testa com os dedos:

- Não! Que isso... somos só amigos. – A enfermeira retribuiu o sorriso. Jane colocou uma mecha atrás da orelha um pouco tímida também:

- Ah, que falta de educação a minha, como se chama?

- Vanessa! Nada, fui eu que não me apresentei. Estou aqui já faz dois anos, trabalho com o doutor Edgar. Você... mora aqui ou...

- Sou de New Jersey. E você, mora aqui há muito tempo? – Vanessa se encostou à mesa atenta a pergunta da garota:

- Sim, desde que nasci. Gosto muito daqui. Sou uma amante da chuva, então aqui é o lugar perfeito! – Jane continuava sorridente e balançou a cabeça positivamente com o comentário da moça. Ao decorrer da conversa, Jane descobriu que tinha muito em comum com a jovem. Os olhos azuis e vivos dela expressavam bem sua personalidade. Que parecia ser companheira e sincera.