sexta-feira, 30 de abril de 2010

9ª Parte - O Diário De Jane.

...que a maçaneta chacoalhou bruscamente e Jane que havia fechado os olhos, os abriu rapidamente já levantado-se. Sentada na cama e segurando o cobertor perto do rosto, a garota estava extremamente assustada. Os olhos estáticos na porta e os lábios trêmulos se abriram ao dizer:

- Quem... está... – Antes que pudesse terminar a frase a maçaneta tremeu mais forte, seguido de um empurrão que abriu brutamente a porta. A mesma, bateu na parede provocando um barulho imenso. Ela inclinou o corpo para trás e o encostou-se à cabeceira da cama, paralisada de medo. Um vento estranhamente forte e gélido entrava arrastando umas folhas secas pelo chão levando-as para dentro do quarto. O abajur ao seu lado iluminava de leve o quarto, mas mesmo assim a escuridão da noite não a deixava enxergar direito. A ventania aumentava. Tudo balançava, as cortinas, os cabelos de Jane e seu cobertor que ela teve que segurar firme, para que não fosse arrancado de suas mãos. Horrorizada, a moça desceu da cama encostando-se na parede segurando a saia de sua camisola, que balançava muito. O abajur caiu, quebrando. A escuridão dominou o ambiente. A gaveta onde estava seu diário, se abriu sozinha, sendo lançada longe. Jane tapou os ouvidos olhando aquele caos, mas não pode deixar de escutar o pior: várias vozes sussurradas passaram pelo quarto e foram até o banheiro. Foi lá, que alguma coisa foi jogada na banheira. O barulho lembrou o de um corpo. Ela gritou alto, apertando os olhos, ainda com os ouvidos tapados. A garota não via nada e isso aumentava ainda mais seu medo.

Aquele terror todo parou de repente. O silêncio voltou subitamente e parecia que nem a ventania lá fora continuava. A única coisa que se escutava com todo aquele silêncio era a respiração forte da garota, que estava tremula e finalmente abriu os olhos molhados, passando os mesmos por todo o quarto. Então olhou o banheiro com medo. Não havia nada lá. Andou devagar, indo rumo a porta do mesmo. Pisou sobre as folhas secas e como estava descalça, olhou para baixo assustando-se. Voltou a andar do mesmo jeito, ainda tremula. Os olhos verdes fixaram-se na banheira que estava iluminada pela luz da lua. A mesma estava vazia, intacta. Ela olhou para os lados, mostrando um pouco de desespero em sua face. Correu para fora à procura de seu amigo. Alguns passos e já estava na porta de Benjamin. Bateu com força na mesma, olhando para baixo, séria. Depois de alguns segundos o moço abriu esfregando os olhos. Quando olhou para ela, fez uma cara de dúvida ao ver seu estado:

- Jane? O que foi?! – Ela passou a mão direita sobre o rosto, respirando fundo. Ele colocou a mão no ombro dela, repetindo a pergunta só que mais preocupado:

- O que aconteceu?! Você esta bem?!

- É... Eu... Eu não sei o que houve... eu vi... – Ben trouxe-a para dentro com a mão nas costas da moça, tentando entender o que ela queria dizer:

- Eu acho que tive um pesadelo... não sei. Não, não... não foi um pesadelo! O que eu vi... foi real! – Jane exclamou entrando no quarto passando uma das mãos na franja e a jogando para trás, aflita.

- Espera, espera... – Ele parou na frente dela, tentando entendê-la:

- Não entendi... Como assim? Você viu alguma coisa? Um fantasma? – Franziu a testa esperando uma resposta esclarecedora:

- Não sei explicar... Só sei que... É como se algo tivesse entrado no meu quarto e desarrumado tudo...

- Alguém entrou no seu quarto?

- Não! Eu não consegui ver, a porta se abriu sozinha... Algo pegou a gaveta da minha cômoda e arremessou longe. – Ele cruzou os braços e suspirou dizendo:

- Algo? – Jane fitou os olhos dele, apertando os lábios. Não sabia como explicar o que havia ocorrido e tinha certeza que ele não ia acreditar. Levantou a mão branca e levou a nuca, acariciando de leve a mesma, como um sinal de dúvida.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

8ª Parte - O Diário De Jane.

Ben passou a mão direita pelos cabelos e sorriu olhando-a:

- Então... Vou deixá-la descansar. – Sorridente ela respondeu:

- Ah, não estou cansada Benjamin. – Os dois andaram pelo corredor juntos, enquanto ele completava:

- Mas você deve estar exausta da viagem, não é? Onde morava?

- Eu morava em New Jersey. Resolvi arriscar a sorte aqui na cidade grande... – Ele parou no meio do corredor, atento as palavras da moça. Logo, disse:

- Entendo. Também fiz isso, Jane. E pode deixar, vou te ajudar aqui no que puder. – Inspirou confiança mais uma vez em Jane. E era isso que a fazia gostar cada vez mais do seu novo amigo. A garota o olhou e sorriu abertamente, suspirou fundo dizendo:

- Muito obrigada Benjamin... Já posso te chamar de Ben?

- Claro! Como quiser, querida. – Ele sorriu de canto, esfregando as mãos uma na outra. Os dois já estavam na frente do quarto dele. A chuva deu uma trégua, mas o vento assoviava forte quando passava pelas gretas das janelas e por todo o casarão. Jane segurou na blusa, olhando a mancha enquanto falava:

- Nossa, estou cheirando a laranja... Vou pro meu quarto tomar um banho e descansar.

- Ok, Jane. Também já vou, amanhã é cedo. – O moço segurou a maçaneta abrindo a porta de leve:

- Você não gostaria de conhecer o hospital? – Jane que já se afastava dele, parou sorrindo de leve:

- Adoraria! Minha nossa... – Conseguia-se ver facilmente a felicidade nos olhos dela quando escutou tal convite. Benjamin abriu mais a porta, adentrando o quarto e terminando seu convite:

- Que bom, então amanhã vamos juntos para o hospital. – Ele piscou de leve para ela – Boa noite, Jane. – A garota balançou a cabeça positivamente e levantou a mão direita em sinal de tchau:

- Certo, boa noite! – Ele fechou sutilmente a porta e ela virou-se de costas sorrindo mostrando os dentes, mordendo de leve seu lábio inferior, olhando pra baixo e suspirando.

Abriu a torneira prateada da banheira de louça branca. Jane fez um coque deixando alguns fios soltos e enquanto esperava a banheira encher, escreveu algumas palavras em seu diário. “... Realmente esse lugar me surpreendeu. E com certeza não devemos julgar as coisas antes de conhecê-las. Antes, estava com medo... Achei que não ia me acostumar longe de casa e que talvez não me daria muito bem com as pessoas que encontraria. Esse é o medo de todas as pessoas, creio eu. Mas tudo que aconteceu foi totalmente o oposto. Com todos eles que conheci agora, aprendi que devo ser menos medrosa... e não deixar que minha mente me leve a ver olhos vermelhos... Que não existem.” A garota riu debochada da última frase que escrevera e então notou que a banheira estava quase cheia. Fechou rapidamente o registro tirando o roupão negro, entrando na água que soltava uma leve fumaça. Relaxou o corpo encostando a nuca na beira da banheira. Levou os olhos a janela que ficava a frente da mesma. Reparou no meio da escuridão da noite os clarões das trovoadas que continuavam sem a chuva e apenas com a ventania, que balançava com força as copas das árvores. O banho foi um pouco demorado, mas ajudou Jane a descansar o corpo e mente. O distante badalar da meia noite avisou a moça que já era bem tarde. Então, a mesma que já havia colocado uma camisola branca, longa e de alças guardou seu diário na primeira gaveta do criado. Viu suas malas na outra cama e pensou:

- Depois arrumo isso. - Deitou-se na cama e se cobriu. Fechou os olhos. O vento passava sorrateiro e frio por debaixo da porta. O silêncio e a escuridão pairavam por todo o lugar. Toda aquela monotonia foi perturbada pelo latido forte de Nick. Jane entre abriu os olhos e ficou escutando. O cãozinho aumentava a freqüência de seus latidos, ficando cada vez mais bravo. A garota franziu a testa abrindo os olhos por completo. Como estava de costas para porta, virou-se encarando a mesma. Neste instante os latidos, que não pareciam longe, se cessaram. Ela estranhou fazendo uma cara de dúvida. Ficou ainda alguns segundos prestando atenção no silêncio repentino. Não escutou mais nada, então fechou os olhos novamente. Mas foi exatamente nessa hora...