sexta-feira, 23 de julho de 2010

17ª Parte - O Diário De Jane.

– A moça sabia perfeitamente disso. O real motivo de seu desespero não era aquele. Mas agora, ela prestava atenção nas mãos quentes do rapaz que envolviam as suas, frias. Ele olhava nos olhos dela e dessa vez Jane continuou encarando-o. Se sentiu melhor, pois sabia que agora tinha com quem contar. Mesmo que não tivesse contado na verdade, estava bem agora. A luz branca e clara do hospital deixava a pele de Benjamin mais pálida ainda. Agora foi ela quem desceu os olhos pelo rosto másculo do rapaz até seus lábios:

- Que mãos geladas... – Ele disse em um sussurro. Ela deu um leve sorriso sem graça e quando foi falar, fora interrompida:

- Por que você não me fala a verdade? - Disse no mesmo tom, com a expressão séria. A garota ficou incomoda com a pergunta do rapaz, mas mesmo assim respondeu procurando as palavras certas:

- Verdade? Que... verdade? Eu já te disse o que houve. – Então, ela olhou para baixo e depois voltou o olhar para as mãos deles.

Jane havia dito a verdade. Mas não a verdade completa. O estranho era como ele sabia que havia mais. Talvez fosse o desespero dela quando o encontrou no corredor ou o seu estado ali no refeitório. Fosse o que fosse, a moça tinha certeza que ele tinha ficado convencido com a história do paciente. Mas na verdade ele queria mais, mesmo que ela omitisse.

- Jane... – As mãos dele ainda envolviam as dela. Quando ele sussurrou seu nome, apertou as mãos dela, com um pouco de força.

- Aconteceu alguma coisa que não quer me contar? – Ben curvou um pouco o corpo, tentando olhar no rosto da garota que estava cabisbaixa. A moça apertou os lábios rosados, e fitou os olhos nele:

- Não. – O moço que continuava sério, apertou mais um pouco as mãos da mesma, sem machucar. Como ele tinha curvado o corpo para olhar no rosto dela, quando Jane levantou mais rosto, pode ver o quanto o moço estava perto dela. Sua respiração ficou lenta. Seu coração disparou. Ela podia sentir a respiração quente dele, sobre sua pele. Os olhos dele percorriam levemente por todo rosto da moça e seus lábios; mas focavam principalmente seus olhos e era como se ele pudesse ver sua alma.

16ª Parte - O Diário De Jane.

Ofegante, ela retirou as mãos devagar e estava com o semblante desesperado. Afastou-se da cama começando a chorar. O paciente que a olhava curioso perguntou:

- O que foi moça? – saindo com pressa do quarto ela disse:

- Nada... eu só... tenho que ir. – Desnorteada ela seguiu pelo corredor tentando entender o que acabara de acontecer. Estava com medo. Agora estava sonhando acordada? Ela tinha tido uma visão? O que era aquilo!? Seu maior medo era ficar louca. Mas não estava louca antes de chegar em Nova Iorque. Afundada em seus pensamentos e limpando as lagrimas, ela virou o corredor e esbarrou com Ben, que vinha apressado:

- Jane! – Ele estava todo de branco, com luvas descartáveis e as pontas de seus dedos estavam sujas de sangue. Pouco sangue, mas foi o suficiente para que a garota lembrasse da macabra cena.

- Eu, eu... – Ela segurou nos ombros dele, empurrando-o de leve e seguiu em frente sem olhar para trás. Benjamin levantou a sobrancelha direita, enquanto a olhava ir. Tirou as luvas rapidamente jogando-as no lixo.

A garoa fina tinha parado, mas o frio continuava o mesmo. O tempo estava muito fechado e o hospital teve que acender algumas luzes para iluminar, mesmo de dia. Jane batia a colherinha de plástico branco na mesa, cuja que usou para misturar o açúcar no suco de laranja. Estava sentada na última mesa do grande refeitório. Alguns enfermeiros conversavam e riam e estavam sentados em uma mesa logo à frente. A jovem ficou cabisbaixa, passou os dedos entre os cabelos:

- Jane? – Levantou o olhar, dizendo com voz cansada:

- Oi. – Ele puxou a cadeira e sentou na frente dela:

- O que houve? – Finalmente a garota olhou nos olhos dele. Estava com os olhos avermelhados pelo choro. Benjamin sentiu pena dela. Não sabia porque, mas sentia. Ela empurrou o copo, cruzando os dedos:

- O que era aquele sangue?

- Era de uma menina, ela cortou a mão. Estava dando pontos... Ficou com medo daquilo?

- Não. – Nenhuma palavra poderia descrever o que ela tinha visto em sua mente. Em sua mente? Esse era o problema; Um problema só dela e que ninguém acreditaria totalmente.

- Fiquei mal... por causa de um paciente que vi.

- Ah... de que quarto?

- Sessenta e cinco.

- O Robson. Ele tem câncer. Mas sabe, já resistiu a três quimioterapias, vai se salvar. – Ela abriu um leve sorriso:

- Que ótima notícia. – O jovem envolveu as mãos dele nas dela e sorriu também, amigável:

- É triste Jane, mas saiba que quando se tornar médica é isso que vai ver diariamente.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

15ª Parte - O Diário De Jane.

A garota começou a andar pelos corredores observando tudo. As paredes eram brancas, as portas eram de uma madeira clara e os números eram em prata. Realmente trabalhar ali era um sonho, o qual a mesma teria de lutar muito pra conseguir. Ela andava devagar olhando cada quarto e cada pessoa que nele estava. Até que ouviu um sussurro. Sem muito assombro ela se virou e viu uma porta meio aberta. O número era sessenta e cinco, o mesmo número do quarto de Benjamin. Jane franziu a testa e se virou por completo indo até a porta do mesmo. Colocou a mão na maçaneta empurrando devagar e subindo os olhos por todo o quarto. Foi ai que Jane fitou a cama e viu um homem de aparentemente cinqüenta anos, magro e careca. Ele a olhava estático e parecia querer chorar. A moça respirou fundo e se aproximou balbuciando algumas palavras:

- O... senhor precisa de ajuda? – Ele levantou a mão esquerda onde havia uma tatuagem em seu dedo médio. Jane não sabia o que significava, mas lhe lembrava um selo. Era pequeno, no entanto a moça sabia muito bem ver os detalhes. Ela colocou a mão por baixo da dele e sorriu bondosa perguntando:

- Quer que eu chame um enfermeiro? – O homem suspirou fundo e olhou bem nos olhos dela sussurrando:

- Coloque-o lá. – Apesar do estado dele suas palavras foram firmes e claras. Jane desviou o olhar, meio atordoada. Talvez ele estivesse delirando. Porém, muitas coisas nesse dia vinham perturbando a moça em seu interior.

- Colocar... o que? – O homem fitou os olhos na porta e segurou firme a mão da mesma sussurrando novamente:

- Apenas coloque-o nele. – A garota olhou na mão pálida e fria do paciente e finalmente pode ver perfeitamente sua tatuagem. Ela já tinha visto aquele símbolo em algum lugar... só não sabia onde. Neste instante, foi como se um flash de uma câmera fotográfica escurecesse os olhos da moça. E como em um filme, uma cena passou por sua mente: ela sentiu muito frio e se viu do lado de fora do casarão. Era noite, as árvores estavam estáticas, mas ela sentia o vento. Viu a janela do andar de cima aberta e as cortinas balançavam lentamente. Ela não ouvia som algum. Apenas sua própria respiração. Seus olhos estavam imóveis rumo a janela. Era como se o tempo tivesse parado. De repente, Jane ouviu um barulho que suou mais alto que o normal por causa do silêncio agudo. E ele vinha da janela.

Não podendo ser mais rápida, deu um passo lento, apertando os olhos para ver o que havia na janela. Foi então, que uma mão feminina e branca segurou firme no para-peito, suja de sangue. O coração da moça disparou e ela recuou. Ela não viu quem era e a mão teve de soltar com brutalidade, pois alguma coisa a puxou ferozmente. Jane colocou as mãos no rosto e apertou os olhos voltando à realidade em um segundo.

14ª Parte - O Diário De Jane.

Impressionada, ela virou o rosto pra ele devagar. Realmente, ele a olhava, mas não estava perto. Então a moça se virou para janela e deu um leve sorriso.

Já estavam no hospital. Desceram e seguiram. Lá Benjamin falou oi para o segurança e então seguiram mais um pouco para dentro. Encontraram um homem alto, aparentemente de uns quarenta anos. Ele cumprimentou o moço sorridente:

- Bom dia, atrasado. E quem você trás ai? – Jane se aproximou cumprimentando-o:

- Olá, sou Jane. – Segurou na mão dela gentilmente:

- Olá Jane... – Benjamin disse:

- Essa é minha amiga, ela veio pra cá pra estudar medicina também.

- Que legal! Prazer em conhecê-la Jane. Sou Edgar, médico geral e ajudo Ben em seu estágio. – Jane sorriu mostrando os dentes:

- O prazer é meu Doutor Edgar. – Apesar de aparentar seus quarenta anos, ele era muito bonito e másculo. Vestido todo de branco, tinha os cabelos castanhos escuros e os olhos verdes. Era muito simpático. Logo depois, uma moça loira se aproximou, era enfermeira e carregava alguns papéis:

- Doutor, tenho novos laudos pra você... – Com um sorriso leve nos lábios, ela deu oi para todos – E você... – Jane completou:

- Sou Jane. Vou estudar medicina em NYU.

- Interessante! – Disse animada, se aproximando de Edgar. – No começo Jane estava tímida, mas logo foi se acostumando com o ambiente. Enfermeiros e outros médicos passavam pra lá e pra cá o tempo todo. Pessoas chegavam, eram colocadas em macas e levadas. A garota tinha cada vez mais certeza que era aquilo o que queria. O Hospital New York - Presbyterian era realmente o que ela esperava. Ia estudar muito pra conseguir trabalhar ali... bem ao lado de Benjamin.

- Aqui... – Alguém colocou a mão em seu ombro e ela voltou de seus pensamentos mais uma vez, finalmente prestando atenção ao seu redor.

- É a sala de raio x, na verdade temos uma sala de raio x pra cada bloco daqui – Riu cruzando os braços – se eu for te mostrar tudo, vamos ficar aqui o dia inteiro. Então, o que achou? – Jane sorriu olhando para os lados e vendo que estava apenas com Edgar.

- Gostei muito! É um sonho que se torna realidade. E... onde foi Benjamin?

- Ãhnn... ele foi se trocar. Acho que ele não podia te levar junto, não? – sorriu meio brincalhão.

- Ah, é claro, eu não quero atrapalhá-lo e nem ao senhor...

- Não, que isso, ainda não chamaram meu nome então quer dizer que está tudo sobre controle. – Ela sorriu colocando as mãos no bolso da calça jeans escura. Suspirou olhando em volta e Edgar que falava com um enfermeiro virou-se:

- Jane, pode ficar a vontade para conhecer o hospital. Só quero que amanhã me traga seu currículo e eu vou ver o que posso fazer por você. – Sorriu amigável:

- Vou ali, precisam de mim...

- Ok doutor, foi um prazer conhecê-lo. – A moça sorriu de lábios fechados:

- O prazer foi todo meu, Jane! Até mais. – E foi apresado encontrando-se com um enfermeiro logo à frente, virando o corredor.